04/06/2009

tempo que também pode ser time

Sinto-me a asfixiar. Desde que cheguei a Portugal faz cinco anos este mês, depois de alguns meses em Londres e cerca de um ano em Nova Iorque, de onde cheguei cheio de força, vejo-me na eventualidade de voltar a sair daqui. Não sou pessoa de projectos, deixo isso para engenheiros e arquitectos entre outros, mas faço coisas e gosto das coisas que faço, não porque ache que têm alguma importância, amanhã cai um calhau na terra e lá se vão as importâncias, mas, enquanto por cá se vai andando, não me apetece ficar, apenas, com a cabeça entre as orelhas a olhar o céu à espera que o calhau caia. Aqui é o que sinto, cada vez mais me vejo a espreitar por entre as nuvens à espera do nada e, apesar de tudo o que me prende e como para nada já chega o pouco que sou, apetece-me partir. Alguém muito próximo diz-me que quer ser feliz, a questão nem é essa, quero lá saber de ser feliz mas tentar seria bom. Na falta de sentido que esta vida tem, Portugal não faz sentido nenhum, é assim como uma espécie de fruta muito colorida e apetitosa mas que o veneno provoca uma morte lenta e dolorosa. Com a morte posso eu bem, a lentidão da dor é que já se torna um pouco pesada. Então preciso da distância, preciso deste divórcio, desta liberdade para poder amar ao largo e dizer, aos que ignoram, a mentira de que Portugal é uma terra muito bonita de gente boa, tornando-me assim mais português que os portugueses na hipocrisia que tanto prezamos e sofremos. Depois é o tempo que me fode, sempre o tempo, esse bastardo sereno e implacável em todos os segundos que tem. Olho para o passado e não vislumbro mais que algumas memórias, já falhadas na precisão e, até, nos sentimentos, o muito que esqueci não existe, o pouco que lembro é vago e difuso, vidas que já não sou nem me lembro de ter sido. O presente não é muito mais que um olhar para o ar a ver se não me falta a respiração e se o calhau não cai. O futuro é onde me fixo, onde sempre me fixei, é o espaço onde me fico e transformo, na certeza de que o futuro, além de não existir, cada vez está mais próximo fim. Assim sou eu nestes dias, asfixio neste tempo que desfaço. Resta-me a canção, aquela que, há 6 anos dedilhada no controle de entrada, me abriu as portas das Americas com um forte aplauso dos policias e todos os presentes. TIME It’s peace and it’s a fight It’s the dark and it’s the light It’s the sun and it’s the rain But it’ll never be the same It’s the grass and it’s the stone Losing hope like anyone It’s a joke and it’s a game But it’ll never be the same It’s the red and it’s the grey It’s a wall and it’s the way It’s the stars and it’s a shame But it’ll never be the same And it’s time, time, time It is love and it is kindness It’s so clear and it’s the blindness It’s the ice and it’s the flame But it’ll never be the same It’s the blue and it’s the black She is Rose and he is Jack It’s the world and it’s a shame But it’ll never be the same And it’s time, time, time I’m alive I’m alive

1 comentário:

rff disse...

É o que muitos de nós sentimos também....
É preciso coragem para levar o barco...

Abraço