12/11/2009

idade

- A idade é uma merda. A frase de Manuel Zacarias Segura Viola, homem observador e prático, apanha o seu amigo José Tobias Taramouco mais distraído que desprevenido. Como se ninguém o tivesse ouvido, Zacarias procura o olhar do amigo e volta a repetir acrescentando um adjectivo como que procurando uma maior atenção. - A idade é uma grande merda. Tobias, rapaz mais dado a literaturas e filosofias, já refeito obriga-se a responder em forma de pergunta. - Porque é que dizes isso? - Porque o tempo gasta-nos, cansa-nos, dá-nos cabo dos ossos... José Taramouco replica sem deixar o amigo acabar. - Torna-nos mais sabedores, mais preparados, mais... - Porra. Lá vens tu com as tuas filosofias - diz, abruptamente, Manuel Zacarias - não sentes no corpo, nos músculos, nessa cabeça cada vez mais distraída? Tobias, vendo o desnorte do amigo não desarma. - Que se passa contigo, preferias ser o puto parvo de vinte anos a vida toda? Não leste mais livros, não viste mais mundo, não te sentes melhor pessoa, não amaste mais? - Outra vez - interrompe Segura Viola já irritado - falo do corpo, da carne e tu falas-me de livros e de amor, deixa-me dizer-te uma coisa sobre o amor. Da adolescência aos vinte e cinco dás três, quatro, às vezes cinco, dos vinte cinco aos trinta andas pelas três às vezes duas, dos trinta aos trinta e cinco passas para duas às vezes três, dos trinta e cinco aos quarenta passas para uma e raramente duas, a partir dos quarenta passas para uma e, na melhor das hipóteses, no dia a seguir mais uma. Tobias, mais taramouco do que o Taramouco do próprio nome, abre os olhos para o amigo tentando responder mas Zacarias antecipa-se: - E não me venhas com a história da qualidade. José, ainda Taramouco de nome e de estado, após uma pausa diz cabisbaixo: - A idade é uma merda.

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