16/04/2010

por outro lado

Quando estive a trabalhar nos EUA, sentia-me profundamente dividido entre o dinheiro que ganhava, o prazer que tinha em viver em NY e a necessidade de estar ao pé dos meus filhos, ainda por cima numa fase muito importante na vida de uma criança, neste caso duas. Numa conversa séria que calhou com um tipo com quem até nem existia grande química no relacionamento, um emigrante rabugento já com 30 anos de América, no fim disse-me com as lágrimas nos olhos: "Vim para aqui há 30 anos e só pensei ficar 5 ou 6 anos e voltar, mas, entretanto, quando mais ganhava mais queria ganhar, quanto mais tinha mais queria ter, passaram mais de 30 e ando por aqui, sozinho. Quando vou a Portugal o meu irmão vive numa casa tal como eu, a minha irmã vive numa casa tal como eu, têm carro como eu, comem bem ou melhor que eu e fazem-no em família, enquanto eu estou para aqui sozinho, os meus filhos são adultos e a infância deles não passa de umas memórias retorcidas de meia dúzia de dias passados em férias, agora quero voltar atrás e não posso e quando estou em Portugal sinto-me deslocado". Passado 3 semanas estava a apanhar o avião de regresso a Portugal e o tipo passou a ser o Sr. Cardoso, um dos meus maiores amigos durante o resto da estadia.

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