06/05/2010

we don’t care about music anyway

Realizado por Cédric Dupire e Gaspard Kuentz, este filme documentário, foi, no mínimo, desconcertante. Dizer que este conjunto de artistas, músicos e performers japoneses que o filme dá a conhecer são bizarros e estranhos, seria injusto e, até, descontextualizar não só o trabalho que realizam mas, sobretudo, a vertente social, cultural e humana que rodeia esse trabalho. Numa sociedade altamente conformista e mecanizada, numa cidade onde milhões de pessoas têm acesso a tudo mas em que esse tudo é tão previsível, tão plástico, tão vazio de significado e, ao mesmo tempo, tão feio, tão sujo, tão barulhento, o ruído, muitas vezes ultrapassando os limites do suportável, torna-se uma catarse para estes artistas. Tudo serve para fazer esta espécie de música que mais será um furacão de sons, desde microfones de contacto junto do coração e de outras partes do corpo, até guitarras tocadas em amplificadores com a distorção e o volume no máximo, acompanhados de gritos ensurdecedores. Chamar vanguarda ou qualquer outro nome à ruidosa electrónica de Numb, ao turntablism de Otomo Yoshihide, aos batimentos cardíacos de Yamakawa Fuyuki, pode ser uma forma de rotular o trabalho destes artistas mas, como qualquer rótulo,torna-se redutor. Os realizadores fazem um trabalho extraordinário de contextualização, as imagens tornam-se um forte suporte que dinamiza todo o filme, com sequências quase perfeitas entre a trama sonora e a vivência de uma cidade assustadoramente grande, aparentemente ordenada, mas, também, feita de sujidade, lixo e ruínas, que muitas vezes nos escapa de um olhar mais atento na rapidez com que desejamos viver hoje em dia. Como ironia, no fim e depois de suportar mais de uma hora de ruídos infernais, surge uma peça pelo violoncelo de Sakamoto Hiromichi com uma melodia quase hipnótica e que me deixou completamente arrepiado. O Sakamoto Hiromichi é o que toca o serrote, pena não encontrar a música final do filme.

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